Wednesday, September 13, 2023
Vida
Feita para mim, nunca ela o quis
Cantiga que fui feito para dançar
E só sai belo meu imberbe saltitar
Se com a melodia consigo acertar
Sonhos e Pesadelos: Anticristo
Volto para casa a pé e à noite, como fiz inúmeras vezes sempre que saio à noite para beber. Em uma das ruas escuras e apertadas pelo caminho ouço o som de unhas na pedra e olho para trás. Está um Pitbull ferido de morte, com o ventre rasgado. Cai com um baque, não se aguenta mais nas patas...
Faço que não vejo e sigo em frente.
Vejo um homem, pobre, sujo, velho, com a barba de 5 dias, com a pele escura e curtida pelo sol até virar couro, com o pescoço rasgado. O sangue a correr que nem água. Olha para mim sem esperança, tentando ignorar a ferida como se assim ficasse menos crítica. Vejo o terror a crescer, a possuir-lhe a face. Sinto o alívio da certeza de ele já não ter força, nem tempo, para ser qualquer tipo de ameaça para mim. Penso em chamar uma ambulância mas asseguro-me que não vale a pena, não há nada que ninguém possa fazer por ele. Ele também o percebe e em pânico corre a segurar-se na parede mais próxima e com um baque cai, encostado a ela...
Faço que não vejo e sigo em frente.
Oiço uma criança gritar: -"Disseste-me que não tinhas ficado ferido!!!". O choro abandonado, que presumo, em cima do cadáver...
Faço que não oiço e sigo em frente. Aperto o passo porque sou um covarde.
Friday, December 4, 2015
Crítica à doce pirataria
Tenho a crença que há vários motivos porque as pessoas morrem todas da mesma maneira:
- Não se esforçam.
- Não praticam.
- Não carregam o corpo com testoterona.
Vejo agora que falhei porque não fui radical o suficiente.
Sobretimei a minha capacidade para mudar os ventos da minha história.
Sobretimei o impacto das minhas performances na nossa relação.
Se for dormir e deixar-lo definhar e cair todos os nossos problemas serão resolvimos.
Morrer impotente não é algo em que eu possa evitar com batota.
Tuesday, April 3, 2012
Eu sou a Justa, o Concursare, a Porrada...
Tuesday, September 22, 2009
Osmose de Guerra
humanidade de tragar sangue e vidas.
Saturday, January 26, 2008
Doce Pirataria
Sentir teu cheiro, a pista estava fria.
Lembrar as tuas palavras mas não as ouvia
e mesmo os nossos segredos
me davam nem dor nem alegria.
O teu lugar, sem ti, não existia
e entendi achar que não há doce pirataria.
Queria levar-te em braços,
prender-te em seus laços,
amarrar-te contra mim.
Sim, sim quis ouvir sim.
Em tudo o que pensei,
faltaste-me, sem ti só o sonhei.
Desejo-me entre tais lábios,
beijar-te toda, sem fim.
Desisti, mais não me apeteceu.
Tarado só por ti.
Thursday, January 24, 2008
E nunca mais ficará algo por fazer...
Um tímido é diferente. Um tímido fia-se que não consegue. Odeia-se e despreza-se por isso mas, para não conseguir, faz coisas que fazem o mais bravo dos mortais tremer e desvanecer de horror.
É possível um covarde se forçar à bravura. Mas um tímido não se força, farta-se. E quando se farta, qual irascível serpente, abraçada ao cadáver que outrora foi, olhos flamejantes, sem pejo ou temor algum da morte, marcha da tumba contra o Inferno. Porque finalmente Vive...
Friday, January 11, 2008
Amor Selvagem
Incoercível que nem Serpente
Meigo que nem Mãe
Não se dá, arremessa-se
Não se recebe, encaixa-se
Não se prova, manifesta-se
Com Ele crescer
Dele me alimentar
E com Ele compreender
Como daqui me pirar
Da Tempera pr'o Fogo
Acaso sente-La a trepar sobre ti?
Qual a natureza deste Fogo de Mel?
Que deseja Ela da Besta a arder em mim?
Em miríades de homens loucura reprovei.
Reprovação das miríades que há em mim.
Dos sonhos de loucura que em vão sonhei.
Essa mesma loucura que amo em Ti.
Santa Loucura é sábia, isso reconheço.
Separa-me da dor que Te aparta de mim.
Devoro mundos que em vão possuo.
Não é vão o Fogo que não possuí em Ti.
Também eu ateei incêndios.
E também eu por eles sofri.
Tesouros Teus, é certo, afaguei-os.
Agora ainda por eles não pereci.
Mas Amor, eu não fiz prisioneiras
A mim presas nunca vim as achar.
Pois se em mim não se viram as primeiras.
Por c'a raio haveria eu das carregar.
O que é meu trago-o comigo.
Carregar o resto não consigo.
O que não é meu não o persigo.
Amor só meu, meu fervor antigo.
O verdadeiro Poder
Sunday, January 6, 2008
No fio da navalha...
- Que todos os nossos momentos partilhem desta insana beleza...
Circo
Mas eu sei onde ela está, na verdade
Há quem procure um grande amor
Mas ele me encontrou a mim, sozinho
Não procuro quem me alivie a dor
Deus sabe que a encontro no caminho
Tudo o que as pessoas querem são elas próprias
Mas este circo distrai-as, um bocadinho...
Para o infinito e mais além...
No fundo a fraqueza de todas as leis da física é que redundam sempre num universo que não pode ser totalmente medido por ela, se assim não for o universo é uma impossibilidade e isso a gente sabe que não é verdade, porque existimos. A fraqueza da física e da ciência em geral é que parte da obra feita para descobrir como foi feita. Pela teoria da relatividade a massa a energia eram infinitas no inicio do universo. Pela teoria das cordas o universo nasceu de uma única dimensão de curvatura infinita. Ora energia, massa ou curvatura são grandezas que não fazem sentido quando infinitas. Imagina que se pagava a conta de electricidade em infinito-volts, em vez de quilovolts. Ou compravas um infinito-quilo de feijão. Ou a a curvatura das asas de um avião tinham infinitos graus.
Acho que isto é o fim da ciência. Eu acho que a teoria da incerteza e a teoria do caos limitaram a ciência. Quanto mais se aumentar a ciência mais se vai limitar. Vai-se chegar a um ponto em que as previsões vão ser probabilidades cada vez mais segmentadas, portanto, cada vez mais pequenas e semelhantes. No fim, até isso parecerá lógico. Se a ciência explica do fim para o principio, tem lógica que quando mais se afastar do fim mais difícil será saber exactamente onde se está. Não estou a dizer que será o fim da ciência, como se ela deixasse de fazer sentido mas como barreira para lá da qual ela não conseguirá ultrapassar, continuando a ser ciência, é claro. Pode-se ultrapassar se se quiser ter fé numa determinada teoria. Mas aí sai-se do âmbito da ciência, entra-se no âmbito da metafisica!?... Acho eu!...
Mas essa convicção nasce de algo, de uma crença muito antiga em mim. As coisas têm uma lógica... Nós é que não somos capazes de a perceber... O que para todos os efeitos, vai dar ao mesmo... Eu acredito que a religião parte das razões para descobrir os meios. Acredito que a ciência parte dos meios para descobrir as razões. Deus, o criador do universo?... É muito mais do que isso, estabelece uma relação de dependência a Ele. A religião não conseguirá prever com segurança nem as razões nem os meios A ciência não conseguirá prever com segurança nem os meios nem as razões. E nós somos deixados a tomar decisões no fio da navalha. Sem conseguir prever o curso das nossas opções...
Mesmo que todos os dados me digam que a minha vida já está perdida, eu não posso acreditar nisso, porque procurar a salvação é o motivo do meu viver. Fé, Esperança e, sobretudo, o Amor! É para isso que eu fui feito, serão esses os instrumentos da minha salvação. Se o sentido da vida é viver, é vivendo a vida que encontrarei a forma de a viver. No fio da navalha. Eu acho isto simples o suficiente para ser belo.
A vida seria cruel, não fosse a sua irascível beleza...
Morte
Só quando o meu miserável estado compreendi, que me a Esperança desapareceu.
Pedi a Morte e, pasmem-se, tentaram me vender aquilo que, por direito, era meu.
Descobri o que já entrevia, o que é nosso é o que o Inimigo me oferecia.
Mandei-o dar sua parte à natureza no meio do mato, com a certeza que algum dia um animal ruim dele faria preza.
Declarei-lhe que o que mais me ofendia era não ter eu estado de graça para ser a agraciada Besta.
O Dono de todo Amor, também do meu, com isto Se compadeceu. Sua mão veio pôr sobre meu ombro.
A Fé e a Esperança tinham-me à muito abandonado na sua eterna busca de indestrutível temperança.
Pedi a Morte e, pasmem-se, a Morte Ele me deu a tudo o que era eu.
E só a parte mais brilhante, parte Dele em mim, acordou e se renegou a desaparecer:
-"À Morte o que é seu e aos vivos os seus despojos!". Bradou ela ao Céu: - "O Uivo, o Grito, o Rosnar, a vontade de servir e Amar."
Da Morte consegui o Acordar, deambulo agora em minha vida na busca de servir para Ressuscitar.
Terror
Ainda gostava de descobrir onde os vamos buscar. Acho nos que buscamos nos nossos medos... Não me parece provável, mas acho que será algo como uma matriz comportamental. Arquétipos de comportamento. Talvez... Coisas que existem só porque quem as teve teve também a vantagem competitiva de as possuir. A um nível acho que somos muito menos livres do o que as pessoas acreditam. A única verdadeira liberdade é superarmo-nos a nós mesmos.
Não há nenhuma vantagem em possuir este tipo de terror?... Sim, pelo menos, por agora eu não vejo o porquê... Só mesmo sermos senhores da nossa pessoa e não a nossa pessoa dona de nós próprios. Profundidade intelectual?... Que tipos de reacções um terror provoca na nossa vida?... Quais as reacções possíveis do mesmo, nosso terror, em pessoas diferentes? Os terrores das pessoas costumam seguir padrões. Um mecanismo de evolução embutido próprio cérebro? Um puzzle que quem acaba fica mais forte? Na verdade, eu preferia não ter este tipo de terror... Mas também queria ser mais evoluído...Vem comigo...
Serei Eu apenas quando todos vós lá fordes Vós. Só ai Serei. Por enquanto, por ai e por além, eu só estarei...
Diversão noturna
A Maça da Serpente
Eu submeto-me a quem me Ama. E quem me Ama é quem loboriozamente elabora elevados esquemas para me salvar. Quem suporta trabalhos em pról de me dar testemunho da verdade. Não faço muito nobre acção em seu brilhante plano aproveitar!
Stress
Claro que há forma de lidar com o stress. Fazê-lo correr a cadeia de comando é mais popular entre elas. Abstermo-nos pura e simplesmente da nossa parte é a mais inteligente. O stress é irmão da vontade e rapidamente se substitui a ela. Mas no fim o stress é um sintoma. Resultante do atrito, provoca o sobreaquecimento num mecanismo mecânico ineficiente ou simplesmente desesperadamente esticado para além do razoável.
Saturday, January 5, 2008
Os meninos à volta da fogueira...
Um país é uma chocadeira de Homens. Enquanto esse país continuar a gerar pessoas que o queiram manter, o país vive. Quando um povo decide que não vale a pena continuar a chocar ali, vem outro povo, mais miserável, e fica com os restos.
O Estado ou estadistas, o que se quer e não se tem, é coisa de políticos. No que me diz respeito isso só lhes interessa a eles. As condições, que se desejam e não se conseguem, é coisa de pedintes. Uns mais pobres que outros, alguns com aspirações mais elevadas que os demais, é certo, mas todos pedincham.
Enquanto Portugal não estiver entregue aos políticos e as suas politiquices e aos seus respectivos pedintes e as suas pedinchices, na minha modesta e muito pedante opinião, Portugal terá o seu futuro assegurado. Um grande estadista é sobretudo uma pessoa, enquanto um país gerar pessoas, não coisas do género de pessoas mas que não se lhes assemelham quer substância quer em qualidade, ele as terá quando delas assim as precisar.
Evolução v.s. Criacionismo
Desde já esclareço o que me permite ser um criacionista evolucionista sem ter nenhum conflito por aí. Eu acredito em Deus, não acredito em magia, acredito em milagres não acredito em fantasia. Se Deus quer fazer algo tem que arranjar uma forma de tornar esse algo possível primeiro. Ao trazer isso à existência o caminho ficará aberto para que isso aconteça desde já até ao fim do mundo. Qualquer milagre será, por definição, um milagre da técnica, necessária, para o conseguir.
Não acredito em um Deus fora da realidade, acredito num Deus que define a realidade. Para algo ser possível de ser definido no Tudo tem que primeiro ser compatível com esse mesmo Tudo e com tudo o que Ele alberga.
Não é possível aprender tudo porque o Tudo não fica paradinho à espera que o aprendamos.
Mas seria insensato deixar de O tentar apreender. A maneira que a mim me dá mais jeito é de cima para baixo e de baixo para cima ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo da religião, teologia, filosofia para a realidade e da realidade para a matemática, física e ciência. Para que a modos que possa triângular a verdade...
Viciados em estimulos
Há varias maneira de lidar com semelhante monstro, devorador de mundos. Há quem lhe encha a barriga com trabalho. Há quem lhe encha a barriga de projectos. Há quem sonhe. E o meu favorito: - encher-lhe a barriga com tudo isto ao mesmo tempo. Tanto faz. Mas desde já lhes aviso que não lhe encham a barriga com diversão pura ou puro prazer.
Como todos os vícios, o sacana é um bárbaro nómada, depois de devastar completamente os verdes prados e o frescos regatos que lhe oferecemos, ele parte para novos e inexplorados horizontes.
Eu cá por mim gosto de lhe oferecer problemas, o gajo devasta-mos e pede-me mais, e eu dou-lhos, claro! Enquanto o sacana trabalha afincadamente para resolver-me todos os meus problemas eu distraio-me no puro prazer de lhos inventar...
Arquitecturas
Qualquer técnico o sabe mas mesmo ele ri-se desta sabedoria. Tal como o marinheiro se ri dos perigos do mar, também nós ficamos surpreendidos quando qualquer coisa não nos corre como devia correr.
Piada das piadas, acreditamos que podemos comandar este sistema de complexidade infinita. Mas fica ainda mais absurdo! Às vezes conseguimos...
Vida
Feita para mim, nunca ela o quis
Cantiga que fui feito para dançar
E só sai belo meu imberbe saltitar
Se com a melodia consigo acertar
Se não se consegue à primeira...
Arrogância
Mas mais preciosa coisa que o bem querer, também, não há.
E passei pela escola a correr.
Correr na pressa de ainda ter tempo para brincar.
E quando para chegar, atrasado não cheguei, sempre pelo aprender me fiquei.
Não fui bom aluno e sou um perigo para mim próprio quando tento agradar.
A correr aprendi minha arte e a correr fui nela trabalhar.
Agora deixar de ser parvo meu sonho é.
E é apenas isso que faz orar.
Essa, talvez mesmo ilusão, não aceito que me tentem roubar.
Trevas
Sacana
E um sacana é uma sacana duma tremenda dor de cabeça.
Friday, January 4, 2008
Roma
Galba, pretor romano, faz um pacto com salteadores lusitanos a troco de terra. Em vez de lhes dar essa terra traí-os e dá-lhes a morte. Viriato escapa e passa o resto da sua vida a lutar por igualdade, liberdade (?), face a uma potência francamente, e a todos os níveis práticos, superior.
Personagens mudam mas a História repete-se. Aníbal, Viriato e outros inimigos consagrados são feitos heróis de Roma.
Roma enaltece o "Pó" que levanta na sua inexorável marcha e Roma chora o sangue que, na sua marcha, derrama. Logo, Roma é o "hospedeiro" ideal para Cristo.
Cristo, por sua vez, escolhe apenas dois "políticos" para seus discípulos. Antes de morrer, um zelóta (Separatista entre Israel e Roma), Judas, depois de ressuscitar, um publicano (Adepto de Roma), Saulo rebaptizado Paulo.
Roma cairá pelo preço que o cristianismo a obriga a pagar. E os "bárbaros", que rasteiraram o seu já precário equilíbrio, irão criar uma nova Roma (Sacro Império Romano).
A feroz ironia das coisas é-me sublime, subtil e quase hilariante (Seria totalmente hilariante se consegui-se mais que arranhar a totalidade da coisa). Deus não será apenas "Terrível", pela boca dos antigos profetas, Ele é terrivelmente Bom nisso. E as teorias de Maquiavel não passam de infecundo e inconsequente plágio quando comparadas com as do Mestre.
Ideologia
Tudo gira em torno da educação (Chamar-lhe Iluminação seria mais exacto mas mais sujeito a interpretações) e de como os Homens com educação arranjam formas de sintetizar e vender aquilo que lhes ensinaram, venderam, etc. receberão de uma epifanía. Aldrabam um pacote que possa ser facilmente distribuído, vendido, forçado a quem eles acham, ou querem achar, que não tive tanta sorte como eles.
Na minha perspectiva esses pacotes são quase todos igualmente bons, bonitos, práticos e inúteis.
O problema não está na ordem das ideias mas na ordem das acções. Como os Homens não vivem num ambiente controlado, são forçados a inventar e ,surpreendentemente ou não, inventam sempre algo, mesmo em condições que fariam qualquer computador de ponta crachar de modo imprevisível, irreparável, inconcebível.
É aí que bate o ponto. Na formação que as pessoas têm e lhes permite inventar coisas mais ou menos consistentes.
Mas a maior parte das pessoas não querem ouvir isto. Apelar ao bom senso nunca foi lá grande alternativa para quem vende uma cor política, uma forma de ver o mundo, um Deus. As pessoas não gostam da realidade. Gostam é de fórmulas mágicas, ídolos, mitologias. Tudo isto demasiado rude, fixo e inflexível para acompanhar o passo à realidade. Encarar o mundo como encaram o futebol, pelos olhos de um fanático, com a força de uma multidão. Como dizia o outro: "Não é por serem muitos que têm razão".
Guerra
Pluribus Unum
A minha mãe tem uma vontade de ferro, é o sargentão lá de casa e, também, a estratega "militar". Quando era nova, e ainda não tinha ficado docemente mole, tinha uma aura duramente marcial. Eu adorava o estilo. Tanto quanto o temia. Nada passava por aquela força. Mas quando a via assim tão frágil, percebia a fragilidade humana. Não a desejava.
Eu, o sacana, ainda era mais duro que ela. Era a minha resposta à sua marcialidade. Ela era enfermeira parteira, trabalhava por turnos, assim, quando precisava tirar férias não precisava das as meter. Fazia trocas e trabalhava semanas a fio, só vinha casa para dormir. Quando voltava, para fazer as férias comigo e com os meus, eu fazia-lhe exactamente o mesmo. Fugia, escondia-me, rejeitava-a, ela não tinha o direito de me deixar sozinho.
Obrigar-me a reformular todo o meu mundo e depois deitar a baixo toda essa reformulação e esperar começar da ponta onde acabado.
Sonhos II -The Gore Within
À sua frente jaz um pilha de corpos esfolados, com a textura da carne de frango sem pele. Três personagens ainda estão vivas, uma mãe e uma filha ajoelhadas em frente uma a outra confortam-se enquanto um pai marcha de uma lado para o outro enfrentado, freneticamente, os seus fantasmas. Também eles estão em carne viva. A outra família esforça-se para conter o pânico. Uma onda maníaca apodera-se deles ao aperceberem-se que têm de fazer qualquer coisa. Começam a arrumar os corpos numa depressão provocada por um, ausente, monte de estrume. O filho enquanto faz isto não consegue conter uma onda de flashbacks.
Uma discussão e ele passa-se, agarra numa pá e começa a descarregá-la nos corpos, ainda vivos dos, estranhamente já, esfolados. Alguns deles tentam tocar-lhe, o rapaz evita-o, batendo-lhes freneticamente. Um consegue agarra-lo, mas o rapaz empurra-o com o pé e ri baixinho de contentamento, com toda a recriminação deste mundo, justifica-se: "Não tens o direito de me tocar". Dá-lhe com a pá, decapitando-o de um só golpe. Esfolados e nus só sobram o pai, a mãe e a filha.
O fim da tarefa alivia as recordações. O pai e o filho começam a empurrar um pesado móvel, muito antigo e já sem portas, para cima dos cadáveres, numa vã tentativa de esconder os corpos. Ouvem, com terror, os ossos a quebrarem-se com o peso. Os que sobreviveram estremecem com o som. Os três confortam-se apesar de ser notório que, compreensivelmente, qualquer toque lhes provocar dores excruciantemente contidas pelos seus músculos desprotegidos. Finda a tarefa os a família do rapaz perdem um momento a observar com um misto que desconforto e ternura os outros três. Não há nada para eles ali. Nada podem fazer.
O regresso é ainda mais difícil e perigoso, a carrinha derrapa e escorrega. Mas ninguém diz nada. Todos os três juntos, vão sozinhos. Acompanhados apenas pelo seu terror, por um tumular pesar.
Sonhos
Um deles vira-se para o cabecilha do grupo e pergunta-lhe o que é que estão ali a fazer. Ele responde-lhe, fazendo o braço direito apontar na direcção do horizonte num ângulo de mais cento e oitenta graus, estão ali para defender "isto". O interlocutor cala-se. Os quatro ficam apenas mais um pouco esclarecidos com a resposta. Uns passos mais adiante o ala centro esquerda entra em modo de ataque ao ver uma cabra branca a comer a erva. O cabecilha do grupo sossega-o, divertido com a reacção:
- "Estamos aqui para defender "tudo", não é a erva. Não te rales com a erva..."
O ala centro esquerdo relaxa contundido pela sua confusão. "Se é para defender "tudo", porque é que isso não se aplica também à erva?" pergunta-se...
Para mim a história é um conto sobre a incapacidade das Partes compreenderem o Todo, uma parábola da incapacidade intelectual que leva os intervenientes não só a não conseguirem defender mas também a combaterem o "Plano".
A Fómula do Tudo
O tudo pode ser, então, uma operação a partir de um passado, que não compreendemos, tendo como objectivo um futuro, imprevisível até se tornar presente, por um Operador, em que não acreditamos.
O que faz mesmo muito sentido face ao facto de eu não conseguir compreender nada do que se passa neste mundo mas em que tudo parece estranhamente previsível, até inevitável, mas só depois de, de facto, ter acontecido.
A máquina universal
Uma sociedade é tão mais evoluída, é tão mais eficiente, como o grau e a quantidade de valências de compreende. Há os cabeçudos que vão à frente, os líderes, os cabeçudos que vêm a seguir, a máquina burocrática que certifica que as ordens dos líderes são bem implementadas, há cabeçudos para fazer a vida mais fácil a toda a sociedade, técnicos e tecnocratas, há cabeçudos para cuidar do corpo, espírito e alma de outros cabeçudos, há cabeçudos que põem tudo em causa, destroem, roubam e corrompem e obrigam a sociedade a reformular-se, etc.
Se formos ver a civilização não é mais que uma gigantesca caixa de ferramentas, em que do mais impetuoso Black&Decker à mais humilde chave seistavada, todos servem apenas para desenvolver, construir, manter e expandir construções em cima de construções, em que uma destas é a própria humanidade. É um ciclo de tenaz, incoercível e progressiva complexidade técnica, táctica e substantiva que nos prende a todos numa corrida sem meta e de objectivos incompreensíveis. E só presos neste correr para não ficar para trás é que todos podemos ambicionar ser livres.
Por outro lado algo que serve para esclarecer a forma da humanidade é completamente incapaz de esclarecer a sua origem. Uma tal corrida sem eira nem beira não poderia iniciar-se a si própria como um acto inteligente. Ninguém começa a correr para lado nenhum num âmbito tão lato. Antes ficaria eternamente a pensar em qual direcção começar a correr face a tão enormes possibilidades. A humanidade é um mero irracional grito de solidão a ecoar pelo universo. Um desespero que só pode ser apaziguado por uma beleza com vida própria. Algo que empatise Criador e Criação, mesmo sabendo de antemão que Eles dois são o mesmo. Afinal, no principio era nada...
Swing
Sound-Check
Se não cair nada tente outras abordagens mais agressivas como dissecar, ou mesmo exumar, o sujeito para se espremer o predicado. Tenha cuidado para não cometer nenhum crime, já que de ferir susceptibilidades já ninguém o safa.
Ter cuidado com sujeitos que acham que já sabem tudo ou com aqueles que já não querem saber nada.
Quanto mais inteligente for o seu interlocutor mais ele o achará inconveniente, quanto mais néscio para menos ele lhe servirá.
Separe bem as pessoas de quem gosta e as a quem gostaria de fazer perguntas pois as duas funções para uma só pessoa costuma provocar conflitos.
Procure especialistas. Para não ficar fora de contexto antes de chegar à pergunta fucral. Atenção que aos especialistas você parecerá sempre demasiado incoveniênte, logo, resuma tudo a uma pergunta simples e quanto mais parva melhor. O especialista acha isto insultuoso, logo, tenderá a responder a esse insulto da forma mais contudênte possível, dando-lhe a resposta que necessita.